sexta-feira, 20 de novembro de 2009

“OS MORTOS NÃO RECLAMAM. OS MORTOS TÊM UMA PACIÊNCIA INESGOTÁVEL”

Por Elisabeth Natale
elisnatale@hotmail.com

Imagine caro leitor, se a obra de Érico Veríssimo, "Incidente em Antares”, com o episódio dos defuntos, pudesse ser reescrita, incluindo personagens da atualidade. Seria muito divertido. A narrativa se refere a sete mortos impedidos de serem sepultados por conta de uma greve de coveiros. E na condição de fantasmas, vagam pela cidade vasculhando a intimidade de pessoas e com denúncias de segredos dos mandantes locais. Lá, os mortos falam.
Mas defuntos insepultados? Só mesmo em Antares, porque coveiro não costuma aderir à greve pelo menos nos dias atuais. Tudo bem se a ficção fosse aplicada na atualidade, até que seria interessante. Imagine mortos “influentes”, iguais a políticos, magistrados, banqueiros e latifundiários tendo de esperar para serem enterrados. Seria aquele “bafafá” em frente ao cemitério. Todos, querendo levar mais um pouquinho.
Uma fezinha daqui; uma movimentação financeira dali; depois os superfaturamentos, e ainda a prática de esconder dinheiro na cueca. É, esta não poderia faltar. Mas quem faria a denúncia? Se a sorte permitisse, deveríamos contar com um defunto destemido e franco, o mínimo. O fato, é que o cômico poderia acabar até sindicância de juízes. Acredite!
“É o juízo final! Arrependei-vos enquanto é tempo!” Grita o padre. E pensar que defunto não fala mesmo.
Depois do que já ouvimos e vimos acontecer nesse país, sobretudo no cenário político, nem defunto falando causaria mais tanto espanto. O duvidoso agora é saber quanto pode durar a paciência inesgotável dos vivos. Enquanto a ficção não se transforma em realidade, deixe que os mortos intercedam por nós.

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