domingo, 22 de novembro de 2009

ACABOU, E AGORA?

Conto escrito à seis mãos: Angel, Danny, Débby, Eddie, Lê, Vini. Publicado por Débora Schmitt.
Citando nosso querido cantor e compositor Nando Reis, eu diria que "esperei por tanto tempo, e esse tempo agora acabou!".
Dia seguinte à formatura. Acordei com uma breve sensação de algo diferente no ar. Hoje eu não vou precisar ler textos, tirar fotos, fazer pautas. Ahhh, as pautas, é o fim delas, que alívio! Tenho muitas opções para hoje, entre as quais a mais difícil é escolher uma delas: ver TV, ficar de bobeira na internet, ir ao clube, ou quem sabe ficar aqui deitada na cama olhando para o teto. Engraçado, nunca tinha reparado como o teto do meu quarto é interessante...
Mas espera aí, e se eu decidir por não fazer nenhuma dessas coisas, o que vou fazer? Aliás, o que vou fazer da minha vida de agora em diante? Não tenho mais professores me cobrando, datas a cumprir, provas para estudar... Será que isso é bom ou ruim? O teto do quarto ficou subitamente meio sem graça, acho que estou preocupada, é melhor eu... (Iniciado por Débby)
...arrumar alguma coisa para comer, pelo menos isso eu sei que faço bem. Nota-se pelos 5 kg que engordei de 4 anos pra cá. Eram tantas teorias na minha cabeça que para assimilar eu precisava comer. Hum, acho que vou ligar pra Carlinha ver o que ela está fazendo...
- Carlinha tudo bem?
- Ixi, não posso falar agora, vou entrar ao vivo em dois minutos, me liga amanha, depois, ou no fim de semana.
Tu tu tu tu tu...
A Carlinha está ralando no jornal do meio-dia, foi até embora mais cedo do baile ontem porque iria fazer plantão hoje. Ela era bem dedicada nas aulas de técnicas de reportagem, nós fazíamos uma bela dupla, os trabalhos ficavam ótimos. A professora dizia que poderíamos trabalhar juntas, mas na época em que a Carlinha pegou estágio na TV eu estava envolvida em um trabalho da faculdade, não teve jeito, fiquei pra trás. Hoje to aqui, ficando cada vez mais gorda.
Ai, lembrei que o coordenador pediu pra eu passar por e-mail algumas fotos pra ele do baile de ontem, mas ele deve estar numa ressaca danada, bebeu todas. Acho que vou separar e levar todas pessoalmente amanhã.
Na manhã seguinte...
Triiimmm, triiimmm, triiimmm...
- Oi...
- Menina, levanta e vem pra cá.
- Ai, Luana, pra quê? (Escrito por Lê)
De repente numa pausa alucinante, não pude recusar o convite de Luana para um teste no jornal. Pela primeira vez na minha vida eu voei. Antes mesmo do dia começar eu estava aflita por nunca conseguir fechar a boca, então mergulhei no guarda roupa e fui ao teste trajando uma indumentária leve, sacudida e muito, muito discreta. O espelho dizia “não tem a ver com você”. Eu sei disso, exclamei. É que aprendi num desses cursos do SEBRAE como se comportar numa entrevista de trabalho. É fato, só lembro da parte da roupa, as outras coisas são teorias, e teoria nunca foi o meu forte. A caminho da possibilidade de um emprego, estava eu ouvindo Black to Black do mp3 do garoto que estava ao meu lado no coletivo urbano! Não tive muita escolha, fechei os olhos e tentei controlar minha intolerância, até que perdi a cabeça e puxei conversa com o garoto que parecia não ter nada na cabeça além do Black to Black. Então eu... (Escrito por Angel)
Depois de alguns minutos tentando chamar a atenção dele, percebi que se tratava do Erasmo, filho da Conceição que foi minha professora do jardim de infância e que até hoje me trata como se eu tivesse seis anos de idade. Não é à toa o comportamento juvenil do Erasmo aos 29 anos. Mas a Conceição não era só a “tia” do jardim de infância, ela é amiga da esposa do dono do “O Juvena”l – se fosse da Conceição seria O Juvenil. Tudo bem que não é lá aquelas coisas de jornal, mas o fato é que talvez o Erasmo possa me levar até à Conceição, que pode me encaminhar até a esposa do dono do jornal que, por sua vez, pode me apresentar o seu digníssimo que talvez me contrate como jornalista – eu suportaria Black to Black a vida toda se isso acontecesse, juro! Então resolvi falar com ele antes que saltasse do ônibus.
- Você não é o Erasmo, filho da dona Conceição?
Antes que ele me respondesse, senti meu celular vibrar dentro da bolsa – certamente era Luana. Ele fez uma cara de que nunca havia me visto antes, tirando lentamente os fones que nem precisavam estar nos ouvidos de tão alto que estava o som,
e eu... (Escrito por Eddie)
De tão empolgada – ou já realizada – com a possibilidade de um emprego, desliguei o celular, olhei profundamente a face de Erasmo e calmamente expliquei:
- Sei que você não me conhece e não sabe de onde venho. Sei também que você não mudou muito desde a infância, mas é que conheço sua mãe e...
Minha boca sem vírgulas parou...A seguinte cena entrou no contexto: Com as pernas bambas e uma expressão no rosto questionadora (estilo xenofobia), Erasmo saltou do ônibus e se pôs a vagar pelas ruas como se nada houvesse acontecido. Neste momento fiquei a pensar...Mais uma chance passou e eu não tive a capacidade de puxar a cordinha no próximo ponto.
Me recompus, respirei fundo e decidi “Esta é a ultima vez que deixo uma oportunidade sair pela porta do ônibus”.
Determinada e com muita vontade de arriscar, segui rumo a tão sonhada oportunidade. Chegando lá me deparei com Luana e... (Escrito por Danny)
...várias pessoas estavam na frente do prédio. Nunca tinha visto ela tão ansiosa em toda a minha vida. No mesmo instante um caminhão de bombeiros entra na rua ao lado em direção a uma grande nuvem de fumaça preta no mesmo quarteirão.
- Lú, o que está acontecendo?
- Uma explosão na casa de máquinas, está tudo destruído, tudo destruído. Ai meu Deus!
- Como assim, como isso aconteceu?
- Não sei eu estava na redação e de repente eu escutei um “kabum”, o chão tremeu e corremos todos pra fora.
- Mas e agora, como fica a minha entrevista?
- A sua entrevista? E como você acha que vai ficar o meu emprego?
Depois disso embarquei de novo no ônibus e voltei pra casa. No dia seguinte a matéria de capa do “O Juvenal” trazia todas as informações sobre a explosão na casa de máquinas do jornal rival. Segundo a reportagem, uma das máquinas não havia sido devidamente lubrificada, travou e aconteceu a grande explosão.
Agora estou novamente sentada na cama, com um sanduíche de queijo quente ao lado, pensando nas dezenas de profissionais daquele jornal, que assim como eu, estão olhando para um teto sem graça e fazendo a mesma pergunta: “Acabou, e agora?” (Finalizado
por Vini)

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